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domingo, 20 de novembro de 2022

Nuno 'Gomes': O Príncipe dos Golos

 


Não foi propriamente uma novidade a chamada de Nuno Gomes ao Euro 2000, mas não era, de todo, a primeira opção para o ataque. Aliás, até se podia dizer que era a última. Sá Pinto tinha sido o habitual titular na qualificação, Pauleta seguia-se na hierarquia e só depois vinha o então avançado do Benfica. Só que, por um conjunto de fatores (o açoriano cumpria um jogo de castigo, Sá Pinto não estava nas melhores condições físicas), Humberto Coelho usou-o como autêntico coelho saído da cartola no arranque daquela fase final, contra a poderosa Inglaterra. Mais de quatro anos depois da estreia de quinas ao peito, Nuno Gomes ainda nem sequer tinha qualquer golo para a amostra... mas seria ali, ali mesmo, contra os ingleses, a consumar uma reviravolta fantástica, num dos jogos mais marcantes do futebol português. E então a vida do avançado mudou...

Nuno Gomes foi dos mais importantes avançados do futebol português no século XXI. Na seleção, apesar de muitas vezes parecer estar na sombra de outras opções, como Pauleta no início ou Hélder Postiga no fim, teve vários momentos marcantes, nomeadamente nos Europeus (é dos poucos jogadores que se podem gabar de terem marcado em três fases finais. Nos clubes, e pese embora a aparição no Boavista, é ao Benfica que mais fica ligado, mesmo com uma passagem por Itália pelo meio. Em termos globais, ficam duas amarguras claras: nunca ter sido melhor marcador do campeonato e não ter conseguido chegar às finais europeias. Mesmo sem coroa, nos golos conseguiu ser de realeza.

Foi pouco depois da revolução de Abril que, no verão de 1976, nasceu Nuno Miguel Soares Pereira Ribeiro. O "Gomes" viria mais tarde e seria ajustado ao Nuno em referência ao Bibota Fernando Gomes, seu ídolo, tal como Van Basten. Tal como o avançado do FC Porto, também o jovem de Amarante demonstrava uma tendência notável para fazer golos, pelo que foi ali, no interior do distrito do Porto, que se começou a apreciar essa tendência. Mesmo que, numa infância bem feliz, tenha também sido interessado praticante de canoagem, vários anos e várias medalhas, e arrastado (por um amigo) praticante de andebol, uma época apenas.

Do interior para o litoral, a mudança deu-se em 1990. O Boavista já o tinha debaixo de olho e aguardou pelos seus 14 anos para o levar para a Invicta. Outros tempos, outras distâncias, pois as condições das estradas não eram as mesmas, mas a presença assídua de Joaquim e Conceição, os pais, fazia-se notar para onde quer que o filho fosse. Com o irmão Tiago, quatro anos mais novo, sempre presente. E não apenas nas viagens axadrezadas. Nuno foi sempre presença nas seleções jovens e, em 1991, na sua primeira experiência do género, teve a família consigo para a conquista dos Jogos Olímpicos da Juventude frente à Espanha de De La Peña, na Bélgica, com um golo seu a dar a vitória (2x1).

À medida que crescia, os golos entravam, numa relação muito estreita entre o avançado e a baliza. Sim, neste caso não há registo de algum momento de mudança em que Nuno tenha passado para a frente. Toda a vida foi avançado. E, apesar de ter sido campeão nacional em juniores vestido de xadrez, a seleção era onde mais mostrava serviço, como na conquista do Europeu de sub-18 em 1994 em Espanha, em que marcou em três dos quatro jogos. Os pais também lá estavam, tal como Dani, com quem começava uma forte parceria.

No ano seguinte, já depois da época de estreia nos seniores do Boavista - marcou logo no primeiro jogo, contra os finlandeses do MyPa, lançado por Manuel José, e somou 23 jogos - voltaria a ter um fim de época mediático. Com o mesmo grupo do Euro de sub-18, viajou para o Qatar e disputou o Mundial sub-20, em que Portugal acabou com o bronze depois de uma fantástica reviravolta contra a Espanha (3x2), jogo em que Nuno (ainda) Ribeiro marcou dois dos quatro golos que fez na competição.

Os êxitos de verão pouco lhe permitiam fazer as pré-épocas, mas nem por isso o avançado deixava de contar para Manuel José. O início de 1995/96 foi mais goleador e a primeira metade da época foi bem conseguida, tanto que em janeiro até se pôde estrear pela seleção principal (António Oliveira meteu-o num amigável contra a França), ao contrário da restante, em que saiu quase sempre do banco. Porém, no verão, havia mais uma nova competição e Nuno Gomes seguiu com Dani como os mais jovens da tribulação que rumou a Atlanta para os Jogos Olímpicos. Não jogou sempre, até porque Paulo Alves foi um dos mais velhos que se juntou ao grupo, mas registou um golo importante contra a Argentina.

A vida de Nuno era um rodopio. Aos 20 anos, já era internacional e tinha um vasto repertório internacional. Afirmar-se e confirmar-se na Primeira Divisão era o passo que faltava.

O normal decurso do trajeto encontrou na época seguinte a fase perfeita para a afirmação. Já não era um menino e Mário Reis, o novo treinador, apostou firmemente nele, muitas vezes ao lado de Jimmy Floyd Hasselbaink, outras vezes à frente do goleador holandês. No fim da época seriam ambos vendidos.

Aliás, no caso do português, até foi antes que tudo ficou alinhavado. No começo de abril, numa ida a Lisboa para defrontar o Estoril para a Taça, reuniu-se com João Loureiro (presidente do Boavista) em casa de Manuel Damásio, então líder do Benfica, e aí ficou fechada a sua transferência para a Luz, onde estava Manuel José, seu ex-treinador, por 600 mil contos (3M€). Não foi isso, contudo, motivo para não meter o pé com a mesma vontade do costume quando, em junho, as duas equipas se juntaram no Jamor. Ou seja, foi com um golo seu e um penálti ganho a ajudar que o Boavista levantou a Taça, num triunfo por 3x2 que foi uma despedida em beleza para o jogador.

O arranque no Benfica não foi bom. Aliás, o começo coletivo foi tão mau que já não era Manuel José o treinador quando o camisola 21 se estreou a marcar, em Braga, ao seu sétimo jogo (1x1). Tomou-lhe o gosto e desatou a marcar, numa época em que foi fazendo dupla com João Vieira Pinto e Brian Deane e que foi em crescendo. Um póquer ao Varzim (4x0) e uma manita ao Leça (7x1) não chegaram para ser o melhor marcador do campeonato, por causa de um tal de Mário Jardel. Tal como na época seguinte, em que passou de 18 para 24 golos no campeonato (além de três na taça e sete na Champions), mas com o Super Mário bem distante, tal como o pentacampeão FC Porto. Era um período complicado na Luz, a que agora os adeptos chamam de Vietname do clube.

Dentro do mau, Nuno Gomes era do pouco bom que havia, como Preud'Homme, João Vieira Pinto ou Poborsky. Todos eles dali sairiam sem mais títulos e Nuno Gomes foi o único a render verdadeiramente. Porque houve a tal montra, com a tal mudança...

A passagem no Euro 2000, que descrevemos no começo deste artigo, foi o cenário ideal para Nuno Gomes mostrar ao mais alto nível a veia goleadora. Atenção: aqueles tinham sido os melhores anos do avançado ao nível da eficácia (fez 76 golos em três épocas na Luz, na segunda passagem faria 90 golos em nove temporadas), sempre acima da barreira dos 20. Só que o Benfica estava num período de clara amargura, tanto que, quando o Europeu chegou, João Vieira Pinto chegou aí como jogador livre, depois de ter sido dispensado por Heynckes e Vale e Azevedo. Nuno não pensava em sair, só que aquele verão trouxe uma procura enorme pelos seus serviços.

Não foi só o golo à Inglaterra, o seu primeiro pela seleção. Quando chegou a fase a eliminar, o avançado foi letal outra vez, com os dois golos da vitória contra a Turquia (duas assistências de génio de Figo) e com o golo que deu vantagem na meia-final contra a França. Numa equipa onde a famosa Geração de Ouro (Baía, Couto, JVP, Figo, Rui Costa) estava no auge, Nuno Gomes surgia como um complemento perfeito. Apesar da mancha no final do jogo.

«Na altura, não tinha visto imagens televisivas e não me pareceu mão. Por isso, aquele senhor tinha-nos tirado o sonho de chegar à final. Queria dar-lhe a camisola para se lembrar de nós. Ainda bem que não a levou porque ela está lá em casa, guardadinha. E ainda bem que não há mais fotos. Porquê? Um pouco mais adiante, já no túnel, atirei a camisola contra ele e acertei-lhe na nuca. Foi por esse gesto que apanhei os sete meses de suspensão das competições internacionais. Tal como eu, o Abel Xavier e o Paulo Bento também foram suspensos», relatou, em entrevista ao Observador.

A Fiorentina viu nele o «sucessor de Batistuta» (quiseram, inclusivamente, que ele ficasse com a camisola 9, e foi o próprio a insistir em querer ser o 21), conforme disseram os responsáveis do clube quando as negociações terminaram, num verão em que o mítico avançado argentino se transferira para a Roma. Por isso, pagou ao Benfica os três milhões de contos (15M€) que constavam na sua cláusula de rescisão e que fizeram dele a maior venda das águias.

«Tinha espírito para emigrante, só que as saudades foram mais fortes. Quando saí do Boavista para o Benfica foi na altura em que passou a ser mais habitual os jogadores saírem para o estrangeiro, por isso aquilo foi visto pelos outros, como eu, como algo apelativo. Fiquei sempre com esse desejo de jogar no estrangeiro, embora sem estar obcecado com isso. Depois do Euro 2000, bateram à porta muitos clubes e achei que essa devia ser a altura. Escolhi a Fiorentina porque era o clube onde estava o Rui Costa, o que me ia ajudar muito na adaptação», contou, muito mais tarde, no programa Conversas à Benfica.

A primeira época foi boa. Estreou-se com um hattrick ao Salernitana (0x5) em apenas 35 minutos, acabou com um golo decisivo a dar a Taça de Itália (1x1) contra o Parma. Só que depois vieram os problemas, já que a crise financeira dos viola era enorme e o dinheiro das vendas de Rui Costa e Francesco Toldo nem sequer entrou nas contas do clube, tais eram as dívidas. A somar a isso, Enrico Chiesa e Mijatovic lesionaram-se. Pior do que tudo, sucediam-se os meses de salários em atraso - chegaram a ser sete!. Tudo somado e descida de divisão, bem como os passes dos jogadores nas mãos dos próprios para que estes escolhessem o destino.

O reflexo da má época de 2001/2002, em que um problema no tornozelo o afetou e fez com que voltasse mais cedo para Portugal para o tentar debelar, viu-se nos 23 minutos que somou no Mundial. Chegou a marcar à China no particular antes da competição, mas depois pouco António Oliveira o usou, também porque Nuno tinha perdido o comboio da titularidade ao ter sido suspenso oito meses por causa do atribulado fim do tal jogo contra a França.

O reflexo de ser um jogador livre viu-se... no regresso ao Benfica. O processo foi demorado, até pelo braço de ferro com a Fiorentina em termos legais, mas o jogador conseguiu aquilo que era o seu desejo. Aos 26 anos, um reforço de peso para um clube que tinha mudado de direção.

«Só tinha olhos para o Benfica na altura. Disse aos responsáveis do Benfica que, se acontecesse alguma coisa na Fiorentina, eles seriam os primeiros com quem ia falar», revelou na mesma entrevista.

Contudo, os números não foram tão impressionantes como antes. A reestruturação do clube teve muitas dores de crescimento e Nuno voltaria a ver um treinador ser despedido logo a abrir (Jesualdo Ferreira, após humilhante derrota com o Gondomar). O seu estatuto era de intocável, só que o plantel tinha algumas lacunas e muitas lesões, como Sokota ou Mantorras, que impediam que Camacho conseguisse trabalhar concretamente o ataque. O próprio esteve quatro meses lesionado, no verão de 2003, altura em que foi finalmente intervencionado ao tornozelo para resolver de vez o problema que ainda vinha de Itália. Ainda assim, ia-se formando uma espinha dorsal portuguesa e Nuno Gomes fazia parte dela, com Simão Sabrosa, Tiago, Petit, Miguel e, mais tarde, Manuel Fernandes.

Os dois primeiros anos desde o regresso não foram fáceis, por causa da concorrência do FC Porto de Mourinho, mas já foram bem melhores que os anteriores e, além de dois segundos lugares, os encarnados venceriam a Taça de Portugal no Jamor aos dragões, dias antes da final de Gelsenkirchen, naquele que seria, ao fim de cinco épocas na Luz, o primeiro troféu do avançado. Pelo meio, a morte de Fehér, o «pior momento» da carreira de Nuno. Também pelo meio, os dois golos que inauguraram o novo Estádio da Luz, precisamente no regresso após a tal paragem por lesão. No fim, a chamada para o Euro 2004.

Nova fase final e novamente Nuno Gomes em segundo plano. Era Pauleta o titular, embora o 21 fosse lançado nos seis jogos. E só houve seis jogos porque, a fechar os grupos, com Portugal a precisar da vitória frente à Espanha, o avançado surgiu na segunda parte, ganhou a bola a meio do meio-campo ofensivo, rodou, ganhou enquadramento e disparou forte para a baliza de Casillas. Se, meses antes, tinha vivido o «pior momento», ali viveu «o mais marcante», e com o pai a ser focado na bancada visivelmente emocionado. Faltou outro, na final contra a Grécia, no jogo que amargurou todo um país e que lhe valeu umas férias bastante... peculiares.

«Durante o Europeu planeei as férias com a minha mulher e estávamos sempre a mudar de destino até que chegámos a esse consenso de ir para a Grécia. Naquela altura não sonhava era em ir à final com a Grécia e, principalmente, em perdê-la. Depois do jogo, cheguei a casa e já passava da meia-noite, portanto já era o meu dia de aniversário, e tinha uma festa preparada com a minha família e vários amigos. Foi a partir daí que se começou a tentar esquecer o jogo, mas era ainda muito a quente. Foi um grande balde de água fria termos perdido essa final. Passados dois dias vou para a Grécia e, não sei se foi no primeiro dia, se no dia a seguir, estava na praia e começo a ver chegar uma cara conhecida. Era o Fyssas, que jogava comigo no Benfica. Ele olhou para mim e disse-me: “Vamos passar aqui uma semana”. E eu: “Mas quem?” E ele: “O dono do hotel ofereceu, como um prémio, uma semana a todos os jogadores da selecção”. Eu olhei para ele: “Mas todos?”. De repente, começo a ver a praia a ser invadida por jogadores gregos e tive de levar com eles ali uma semana. Felizmente, o hotel tinha duas zonas de praia e eu ia sempre para onde eles não estivessem, ou então ia visitar a ilha para não estar muito tempo com eles. À noite ficava a jantar pelo hotel e às vezes havia uma festa mesmo dedicada aos jogadores da selecção. E houve uma vez ou outra em que os jogadores estavam todos lá a jantar e a ouvir música, começaram a dançar e tentavam, assim meio na brincadeira, vir buscar-me à mesa para ir dançar com eles. E eu: “Bem já estão a ultrapassar os limites! Isso não. Estou aqui, mas não vamos confundir as coisas”. [risos]», contou, numa entrevista à revista Playboy.

Seria em 2004/2005 que o título de campeão finalmente chegaria, com Trappatoni ao leme da equipa e com Nuno Gomes bastante ativo, apesar de uma lesão de dois meses a meio da época. A glória chegaria no seu Bessa, curiosamente, onde o Benfica terminaria o maior jejum da sua história, sendo campeão nacional 11 anos depois. Além disso, permitiu jogar a Supertaça, onde fez o golo da vitória contra o Vitória FC (1x0), e também o regresso à Liga dos Campeões, sendo Nuno o único do plantel que tinha estado na última participação. Foi, ainda assim, no campeonato que melhor esteve, com a marca de 15 golos e a sensação de que, se não fosse a lesão a começar abril (que o tirou também da eliminatória com o Barcelona), podia finalmente ter-se sagrado o melhor marcador do campeonato - ganharia o sadino Meyong. Dois dos golos mais importantes aconteceram no Dragão, numa vitória 14 anos da última na casa do FC Porto, outro marco importante dessa época para o português.

A glória voltava a ser apenas parcial, tal como depois no Mundial, onde integrou a comitiva de Scolari, ainda que de forma limitada, razão para só ter entrado em dois jogos, mas conseguindo marcar à Alemanha. Muitos questionaram se não teria sido subaproveitado pelo selecionador, até pela capacidade goleadora em fases finais anteriores.

Certo é que, depois desse verão de 2006, passou a ser ele o dono da braçadeira, após as saídas de Figo e Pauleta, e também o habitual titular de Scolari, até ao Euro 2008, onde conseguiu, pelo terceiro Europeu seguido, marcar em fases finais - foi contra a Alemanha o seu 29.º e último golo pela seleção.

Nessa altura, era também já o capitão do Benfica, depois da saída de Simão em 2007, e com o seu amigo Rui Costa também de volta a casa. Só que o avançar da idade e as pequenas lesões foram fazendo com que as suas prestações, apesar de imprescindível sempre que estava apto, fossem menos vistosas.

Com Quique, perdeu o estatuto de intocável, numa altura em que aparecia Cardozo. Com Jorge Jesus, as aparições foram ainda menos. No fim de 2009/10, pôde festejar novamente o título de campeão nacional e, nesses dois anos, ganhou duas taças da liga, mas a relevância foi sendo progressivamente menor, tanto que Carlos Queiroz não o chamou para o Mundial 2010, uma das grandes mágoas com que ficou. Um período que, ainda por cima, coincidiu com o falecimento do pai Joaquim, vítima de doença oncológica, um episódio que muito o abalou.

Ainda ficou mais uma época no Benfica, a sua 12.ª, e com um score muito interessante de cinco golos em oito jogos, todos eles vindo do banco. A média foi impressionante, pois, em média, fazia golos a cada 20 minutos, o que fazia com que os adeptos reclamassem a Jorge Jesus maior preponderância para o 21, que era cada vez mais um elemento útil de balneário, só que não era aquilo que Nuno queria. O contrato acabou e o avançado decidiu sair, rumo a Braga e a um clube que tinha acabado de ir à final da Liga Europa.

O objetivo na cabeça de Nuno era claro: ir ao Euro 2012. Paulo Bento chamou-o novamente à seleção, em agosto de 2011.

«Este era um dos objetivos que tinha e que revelei quando decidi vir para o SCBraga. A minha carreira não terminou. Sempre me senti bem, sinto-me bem, capaz de continuar a oferecer muito trabalho e dedicação. Ao vir para o Braga, estava implícito continuar a alimentar este sonho e esta certeza de poder ser ainda selecionável», disse, na altura.

Não jogou nesses, jogaria depois em outubro, mas seria a sua última chamada e aparição. Mesmo no Braga, com Leonardo Jardim, a sua utilização foi decrescendo. Acabou no terceiro lugar e pronto para sair, de Portugal ou mesmo do futebol.

Ainda emigrou uma segunda vez, para terminar no futebol inglês. O Blackburn fez-lhe o convite, o avançado aceitou e, ao fim de seis jornadas no Championship, já tinha quatro golos. Foi o último registo de Nuno, o homem-golos, na casa do futebol.

«Nos jogos fora tínhamos duas/três mil pessoas a acompanharem o Blackburn Rovers, no Championship, e o clube atravessava problemas de relação entre adeptos e os donos do clube. Tinha acabado de ser comprado há pouco tempo e a relação não era a melhor, mas, mesmo assim, perdemos uma ou outra vez em casa e saíamos aplaudidos. Houve uma vez, perdemos 3 ou 4-0 em casa, fui para o carro depois do jogo e ninguém me tinha riscado o carro, furado os pneus, nem sequer um adepto à minha espera ou à espera de alguém da equipa para mandar umas bocas. [risos] Bateram palmas no final e depois foram à vida deles e passados três dias estavam lá outra vez a encher o estádio. Isso para o espectáculo em si, depois também para a confiança da equipa é de louvar. Temos muito a aprender com eles».

https://www.zerozero.pt/text.php?tp=1&nchapter=173

Nené: O Assassino Silencioso

578 jogos pelo Benfica, 362 golos. Nenhum jogador representou o Benfica em tantos jogos e apenas Eusébio e José Águas marcaram mais pelas águias. Tamagnini Manuel, de nome, Nené no mundo do futebol, figura emblemática do futebol português.

Nascido no Norte de Portugal, em Leça da Palmeira, em 1949, cedo rumou a Moçambique com os pais. No país africano começou a jogar futebol, no Ferroviário da Manga, mas rapidamente o seu talento começou a dar nas vistas e o Benfica contratou-o, ainda nas camadas jovens, com 16 anos. Era, na altura, um promissor extremo direito, que se destacava pela velocidade. Representar os encarnados era um sonho de Nené, até pelas questões familiares: o seu primo, Cavém, tinha sido um destacado jogador do clube.

Depois de duas épocas nas camadas jovens, Nené estreou-se pela equipa principal do Benfica na véspera de fazer 19 anos, em 1968, lançado por Otto Glória. Depois de duas épocas em que só realizou um total de sete jogos, Nené impôs-se definitivamente no clube encarnado em 1971/72, época em que marcou 13 golos em 37 jogos. Nessa temporada, destacou-se em dois jogos: hat-trick ao Feyenoord, nos quartos de final da Taça dos Campeões Europeus, e bis diante do FC Porto, numa goleada por 6x0 nas meias-finais da Taça. Tinha 22 anos e já começava a dar nas vistas.

Em 1975/76, a carreira de Nené mudou radicalmente. Mário Wilson apostou nele como ponta de lança e não extremo, e Nené tornou-se uma máquina de fazer golos. O sucesso foi imediato, terminando a época com 35 golos em 35 jogos, sagrando-se o melhor marcador da Taça dos Campeões Europeus.

Durante nove épocas, Nené marcou sempre pelo, pelo menos, 20 golos em todas as competições, sagrando-se melhor marcador do campeonato por duas vezes e vivendo grandes momentos, um dos principais em junho de 1981, quando apontou um hat-trick ao FC Porto na final da Taça de Portugal.

Nas duas últimas épocas, foi perdendo protagonismo na equipa, acabando por terminar a carreira em 1985/86. Continuou no Benfica e foi treinador das camadas durante 10 anos.

Apesar de toda uma carreira ao serviço do Benfica, Nené nunca foi consensual entre os adeptos do Benfica, já que alguns criticavam o seu reduzido esforço em campo, referindo a pouca predisposição para ir ao choque e à luta, algo que nem sempre era encarado com bons olhos pela exigente massa adepta encarnada.

A sua carreira foi dedicada quase em exclusivo ao Benfica: foram 18 épocas ao serviço do emblema das águias (o único clube que representou como sénior), com mais de 500 jogos e mais de 300 golos e um palmarés invejável: 10 campeonatos e 7 Taças, num total de 20 títulos.

Mas não foi apenas ao serviço do Benfica que Nené se destacou: na Seleção Nacional também deu que falar. Estreou-se em 1971, com 21 anos e marcou 22 golos, tendo representado a Seleção durante 13 anos. O seu maior momento pela Seleção foi já na reta final, com a presença no Euro 84, tendo apontado um golo decisivo, a dar a vitória sobre a Roménia. No jogo frente à França nas meias-finais, realizou o seu último desafio por Portugal e entrou na história: foi a sua 65.ª internacionalização, que lhe permitiu ultrapassar Eusébio como o mais internacional de sempre pela Seleção, registo que manteve até 1994, quando João Pinto o ultrapassou.

Demonstrou uma enorme capacidade de desmarcação, passando muitas vezes despercebido e adotando uma técnica incomum: falava com os defesas adversários das suas vidas, com o intuito de os desconcentrar ao longo do jogo. Conhecido por não sujar os calções, numa alusão ao facto de ser um avançado mais móvel e que não se atirava para o chão, respondia com golos, muitos golos. E, como o próprio referiu, “os golos marcam-se de pé e não deitado”.

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