domingo, 20 de novembro de 2022

Nené: O Assassino Silencioso

578 jogos pelo Benfica, 362 golos. Nenhum jogador representou o Benfica em tantos jogos e apenas Eusébio e José Águas marcaram mais pelas águias. Tamagnini Manuel, de nome, Nené no mundo do futebol, figura emblemática do futebol português.

Nascido no Norte de Portugal, em Leça da Palmeira, em 1949, cedo rumou a Moçambique com os pais. No país africano começou a jogar futebol, no Ferroviário da Manga, mas rapidamente o seu talento começou a dar nas vistas e o Benfica contratou-o, ainda nas camadas jovens, com 16 anos. Era, na altura, um promissor extremo direito, que se destacava pela velocidade. Representar os encarnados era um sonho de Nené, até pelas questões familiares: o seu primo, Cavém, tinha sido um destacado jogador do clube.

Depois de duas épocas nas camadas jovens, Nené estreou-se pela equipa principal do Benfica na véspera de fazer 19 anos, em 1968, lançado por Otto Glória. Depois de duas épocas em que só realizou um total de sete jogos, Nené impôs-se definitivamente no clube encarnado em 1971/72, época em que marcou 13 golos em 37 jogos. Nessa temporada, destacou-se em dois jogos: hat-trick ao Feyenoord, nos quartos de final da Taça dos Campeões Europeus, e bis diante do FC Porto, numa goleada por 6x0 nas meias-finais da Taça. Tinha 22 anos e já começava a dar nas vistas.

Em 1975/76, a carreira de Nené mudou radicalmente. Mário Wilson apostou nele como ponta de lança e não extremo, e Nené tornou-se uma máquina de fazer golos. O sucesso foi imediato, terminando a época com 35 golos em 35 jogos, sagrando-se o melhor marcador da Taça dos Campeões Europeus.

Durante nove épocas, Nené marcou sempre pelo, pelo menos, 20 golos em todas as competições, sagrando-se melhor marcador do campeonato por duas vezes e vivendo grandes momentos, um dos principais em junho de 1981, quando apontou um hat-trick ao FC Porto na final da Taça de Portugal.

Nas duas últimas épocas, foi perdendo protagonismo na equipa, acabando por terminar a carreira em 1985/86. Continuou no Benfica e foi treinador das camadas durante 10 anos.

Apesar de toda uma carreira ao serviço do Benfica, Nené nunca foi consensual entre os adeptos do Benfica, já que alguns criticavam o seu reduzido esforço em campo, referindo a pouca predisposição para ir ao choque e à luta, algo que nem sempre era encarado com bons olhos pela exigente massa adepta encarnada.

A sua carreira foi dedicada quase em exclusivo ao Benfica: foram 18 épocas ao serviço do emblema das águias (o único clube que representou como sénior), com mais de 500 jogos e mais de 300 golos e um palmarés invejável: 10 campeonatos e 7 Taças, num total de 20 títulos.

Mas não foi apenas ao serviço do Benfica que Nené se destacou: na Seleção Nacional também deu que falar. Estreou-se em 1971, com 21 anos e marcou 22 golos, tendo representado a Seleção durante 13 anos. O seu maior momento pela Seleção foi já na reta final, com a presença no Euro 84, tendo apontado um golo decisivo, a dar a vitória sobre a Roménia. No jogo frente à França nas meias-finais, realizou o seu último desafio por Portugal e entrou na história: foi a sua 65.ª internacionalização, que lhe permitiu ultrapassar Eusébio como o mais internacional de sempre pela Seleção, registo que manteve até 1994, quando João Pinto o ultrapassou.

Demonstrou uma enorme capacidade de desmarcação, passando muitas vezes despercebido e adotando uma técnica incomum: falava com os defesas adversários das suas vidas, com o intuito de os desconcentrar ao longo do jogo. Conhecido por não sujar os calções, numa alusão ao facto de ser um avançado mais móvel e que não se atirava para o chão, respondia com golos, muitos golos. E, como o próprio referiu, “os golos marcam-se de pé e não deitado”.

https://www.zerozero.pt/text.php?id=11868